terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Nesta Manhã




Nesta manhã,  eu estava em seus braços e ainda podia perceber o entorpecer do meu corpo colado ao seu...

Havia em nós uma necessidade extrema de prazer e luxuria - uma vontade de morrer ali para sempre.

os vitrais coloriam as luzes, mas um amarelo âmbar era capaz de ofuscar qualquer que fosse aquele brilho, aquele brilho que seus olhos tinham ao me contemplar.

nua eu deixava-me ser uma obra de arte apreciada.

senti uma saudade enorme de Buenos Aires, dos nossos cafés pelas esquinas frias nas manhãs daquele fim de junho.

eu gostaria de ler pra você, o que me inspira agora...uma inspiração climática...sem a melancolia dos dias cinzas, mas com a veemência e o calor dos dias amarelos, quentes, transbordantes dessa vontade inquietante.

Cansei dessa saudade que me consome dia após dia...

Meu corpo ainda inebriado do seu perfume e do prazer daquela noite inesquecível ecoa toda a volúpia com que me deteve...meus passos incertos, meu respirar com desespero calado pelo seu desejo na esquina da Nove de Julho com a Florida...

A vida se abria diante de meus pés, a chuva caía e nos molhava deixando meu corpo transparecer por entre o tecido que cobria a pele...a pele quente que suas mãos percorriam. Sua boca devorava com prazer as minhas meias palavras e sorria e você me observava. Como uma criança que acaba de ganhar um novo brinquedo meus olhos brilhavam quando encontravam os seus.

Eu, frágil, me deixava carregar por seus braços e abraços e repetia a mim mesma...me leve pra você!

Sua, completamente sua, éramos uma substância desconhecida, perigosa e altamente viciante que eu desejava consumir até a última gota...meu veneno mais doce...sem me dar conta eu deixaria você me aniquilar lascivamente.

Seu corpo era o mapa do tesouro, o mapa que desvendaria meu maior prazer. 
Num delirante caminho de curvas sinuosas eu me dirigia ao mais alto dos penhascos, de onde eu me lançaria sem medo...trazendo todos os meus instintos a tona, sem ao menos perceber a linha tênue que rompe a dor e se torna prazer.

Abri os olhos...eu estava inerte, totalmente envolvida pelos seus braços, tomada por uma exaustão de deleite e de contentamento...a respiração fraca aquecida pelo calor do seu corpo e a plenitude desta manhã.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

uma noite...








o céu estava claro, a noite se fazia fria mas a sua proximidade me aquecia...

meus pensamentos giravam e me tiravam daquele lugar com uma velocidade que eu nem percebia.

entre um gole e outro eu ouvia o que você me dizia...


meu coração estava acelerado e eu desejava com veemência que minhas vontades fossem atendidas.

esperei que meus olhos pudessem te contar tudo que eu estava pensando...


senti um gosto gelado, mas pela primeira vez achei o líquido doce...
cansei de esperar pelo destino e resolvi correr atrás dele...

tomados por uma ânsia de vida, eu era incapaz de me reconhecer naqueles corpos no meio da paisagem...


as luzes eram amareladas e virávamos sombras...uma alucinação pelo desejo que eu sentia...


você me despia com os olhos, me devorava cada vez que mordia os lábios e sem restrições eu era sua, somente sua.


do dia para a noite, para aquela noite, o hiato que nos separava desapareceu...

eu era você em uma combustão de sensações...

o céu se mantinha claro e calmo, mas uma chuva fina insistia em deixar os corpos úmidos na paisagem gélida da madrugada que se aprofundava.


você me apertava contra seu corpo e desta vez me despia com volúpia, desejo e prazer para o seu deleite.


eu era sua...


sua boca mapeava meu corpo de maneira fugaz consumindo meu fôlego e me inebriando do perfume da sua pele.


a linha que separava dor e prazer era tão tênue que eu mal pude perceber e me deixei cair em seus braços.


o céu era o plano de fundo...


um frio percorria a espinha cada vez que você me deixava mais perto...seu corpo um convite a minha submissão.


no impulso do seu desejo, o ar tornava-se algo insuficiente...

a saliva se misturava...

seus olhos me confundiam refletindo meu corpo entregue com sofreguidão, ansiedade, impaciência e avidez.

sábado, 8 de setembro de 2012

2.8




Dizem que ficamos bem quando nosso inferno astral passa, mas acho que no meu caso foi justamente o contrário que aconteceu.
Eu não me dei conta dos meses que passaram e muito menos da proximidade com o final de mais um ciclo e no entanto ele passou, mas passou como um furacão, me tirando completamente de órbita e me pondo a olhar todas as coisa que esses 28 anos passaram em branco por mim. E quase como um tapa na cara disse com todas as letras, a vida passou...
pra muitos pode ser visto como um drama alguém que aos 28 anos diz que a vida passou em branco, mas não é verdade, é apenas uma visão nua e crua da realidade.
Ano passado prestes a encerrar meu ciclo dos 26, meu pai me dizia que eu estava feliz com minhas três ultimas realizações e que faltava apenas uma coisa pra que eu me sentisse plenamente radiante. Na ocasião ele estava certo, faltava e continuou faltando. Porém, este ano além do que já faltava ano passado, perdi meu conselheiro, pai, amigo e acima de tudo parte do meu alicerce, uma das duas pessoas pela qual eu ainda tinha vontade de me levantar e dizer ok, eu posso ir em frente. Hoje, a vontade passou a ser pela metade e há dias onde eu aceito, não, eu não posso ir em frente.
Os "amigos" sumiram, o amor continua platônico e o pior de tudo a esperança deixou de existir. Não olho o futuro porque deixei de ter horizonte, não faço planos porque eles não sairiam do papel, não tenho sonhos e não espero nada do que sei que não vai chegar e se um dia chegar, irei perde-los.
Assim me darei ao luxo de viver esses meus vinte e cinco próximos dias, distante de tudo e da grande maioria das pessoas, recolhida no meu jardim secreto...eu, minhas lembranças, minha dor, meu desespero, minha ausência de mim mesma. Um isolamento que talvez seja minha única proteção, uma fuga cada vez mais reconfortante. 
Por muitos anos, sem compreender o que era uma tristeza inquieta, eu procurei por este refugio, por bobagens...mas curei o que julgava serem feridas, juntei cacos, colei mosaicos e agora tudo se faz diferente...eu busco o refúgio mas apenas para deixar que as feridas me consumam...
Eu não vou brigar, eu não vou lutar e também não vou questionar.
Eu precisei sentar com você àquela mesa, compreender, te ver chorar e me calar diante do que eu sentia naquele instante. 
Acostuma-se com a dor...e te deixar partir, fazer-se aceitar suas razões era uma maneira de me colocar digna diante de ti.
Pago um preço alto por erros dos quais eu nem sei se cometi, mas pago...pago por obediência, por resignação e por talvez compreender em 28 anos a minha real missão de vida. 

Enterrei desejos, sonhos e aceitei meu castigo e o cumprirei mesmo não me julgando merecedora de algo tão severo.

Deixo a tristeza me encaminhar e me permito cair.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pra ir a Lua


eu não vivia essa dor imensa que consome meus dias quando te conheci, você era recem chegado e eu dominava aquele lugar, ele era meu...sorri da meia dúzia de bobagens que você disse, afirmando a mim mesma que você não tinha nada de interessante...foi essa minha primeira impressão e a segunda também.

depois de ser arremessada pra fora da minha própria vida, eu não me lembro ao certo como você se aproximou e muito menos sei como cheguei a essa conclusão gostosa que me distrai da minha tristeza...gosto dos lugares onde você está, gosto dos gestos, da ingenuidade, do sorriso, das broncas, de pegar no meu pé por me achar bravinha, gosto da simplicidade, da ironia e gosto do gosto que imagino que você tem.

gosto de te olhar a distância, de admirar seus passos, gosto daquela visão no sol que iluminava tudo a sua volta...eu não tinha reparado como haviam cores naquele dia.

eu me aproximei, seu perfume inebriante me entorpecia...eu me deixei cair em seus braços, corria pela pele um arrepio prazeroso cheio de símbolos e gostos...

uma mistura do meu desejo que eu já não sabia mais conter...você me movimentava sem que eu percebesse...eu estava em êxtase, você me oferecia mais uma taça de vinho...

não me dei conta de quando você me puxou pra junto do seu corpo...eu podia sentir as batidas do seu coração, o calor da sua boca, o calor da sua pele...você me despia com os olhos e eu suplicava pra que você não me soltasse.

ah! eu quis ser sua, completamente sua...

a camiseta estava colocada no seu corpo, a chuva nos encharcava, os olhos piscavam, as bocas se procuravam, as mãos se devoravam...eu respirava e tudo a nossa volta girava, meu corpo respondia com submissão aos seus desejos, eu achava graça...e respondia ao prazer que me dava...as cores se misturavam a saliva, ao cheiro da sua pele...desejo e prazer em um mesmo tom...eu não me dei conta das cores que começavam a pincelar os meus dias...

suas palavras me seduzem, seus olhos me despem, suas mãos me manipulam, seu desejo me encanta.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Hoje

Há muitos meses que não consigo sequer expressar minhas palavras.
A vida passou a pesar quilos sobre os ombros cansados.
Chorar é uma atividade exaustiva, nos deixa fracos, frágeis, contando as horas e em vão colando cacos que nunca mais irão se juntar.
Os dias passam e tudo que eu desejaria era ficar no mesmo lugar, sob esse céu gelado de inverno e sol brilhante.
Nem nos meus piores pesadelos eu poderia saber que a dor seria tão grande. Passo dias me perguntando o que de tão errado eu fiz pra tamanho castigo e sem resposta empurro a vida ladeira a baixo. Sem horizonte, alimento-me de um passado não tão distante e me questiono se tinha mesmo que ser assim e mais uma vez sem resposta ganho impulso pra guardar minha tristeza e a deixo me corroer de maneira lenta e dolorosa me punindo do que eu nem mesmo sei.
Sufoco meu choro e minha fraqueza diante das minhas feridas e resigno-me a essa dor que me dilacera e olho pra vida como se ela fosse meu mais cruel algoz, me ferindo sem piedade e eu por obediência sequer peço clemencia ou compaixão.
Aceito meus castigos e minhas punições sufocando a minha dor tentando compreender onde foi que errei, qual o crime que pago um preço tão alto.
Me pergunto porque não fui eu? Em nada eu faria tanta falta, em nada eu seria tão importante, em nada minha ausência seria tão significativa e ao contrário do que possa parecer me agrada se tão pouco significante, ou seja, volto na minha mesma questão de porque não a mim?
Meus olhos pesam e as letras estão turvas.
Todas as noites me sinto em uma exaustão sem tamanho e assim fico a deriva e como um objeto sem uso, valor ou função envelheço, estragando a cada dia um pouco mais.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

.*.*.*.*.

 
Há quarenta e três dias eu tento juntar realmente o que sobrou de mim e colar os pedaços desse mosaico traiçoeiro que é a vida.Uma dor imensa consumiu tudo...meus sonhos, meus desejos, minha pouca mas ainda existente vontade de viver.Não tenho que aceitar, não tenho que entender e muito menos tenho que não sofrer.Vejo tudo desmoronando e não consigo me apegar a nada. Estou a deriva, me sinto perdida e completamente sem visão de horizonte.Talvez seja o preço alto a se pagar, eu um dia achei que me sentia triste, que me sentia sozinha e agora pago pela minha ignorância, pois agora sim estou sozinha e numa tristeza que não tem tamanho, que vai dilacerando tudo por onde passa, que não é capaz de manter nada em pé.
E assim empurro a vida ou talvez seja ela quem me empurre. Faço as coisas no piloto automático, tudo se torna mecânico e lógico.Tento me apegar e acreditar que Deus é justo, mas infelizmente sofro de uma desconfiança dessa justiça.Há tantos que poderiam partir sem que não fizessem falta a ninguém, nem a sí mesmos e eu perdi uma das poucas pessoas que me mantinha em pé, firme das minhas decisões, companheiro das minhas tentativas e comemorador dos meus acertos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pai




os sapatos ficaram no lugar, as chaves do carro no gancho da rede...e a casa foi tomada por um silêncio tão doloroso que eu jamais poderia imaginar como é.
durante muito tempo eu busquei algumas razões e sempre senti um vazio que me consumia, porém, eu sabia que meu porto seguro estava lá pra qualquer que fosse o motivo, e eu voltava pra ele sem vergonha de me aconchegar nos seus braços e não eram preciso palavras pois nossos olhos diziam absolutamente tudo.
eu não quis acreditar e desejei tanto que alguém me dissesse que era uma mentira de muito mal gosto que você estaria longe de mim, que agora meus passos seriam inseguros e solitários.
sempre achei que a solidão que existia em mim era enorme, hoje vejo o quão ela era pequena.
tomamos café naquela sexta pela manhã e não poderia imaginar que você se fosse no fim do dia.

meu orgulho, minha razão de viver...meu pai.
quem me ensinou a amarrar os sapatos, quem estava lá no meu primeiro dia de aula, quem eu esperei pra me levar na escola todos os dias na hora do almoço, quem me fazia ver os desafios menores e a enfrenta-los com coragem, quem quando a preguiça vinha me levava na escola a cinco quadras dela, quem estava lá pra ouvir sobre minhas boas notas, quem me ajudava a querer essas boas notas.

e você foi assim sempre...estava lá no vestibulinho e me aguardou na saída, esteve na minha primeira entrevista de emprego, estava no trote do colégio e sorriu ao me ver rabiscada...estava lá nos vestibulares, esteve na decisão entre arquitetura ou engenharia, esteve em todos os longos cinco anos que agora parecem tão poucos perto das ultimas horas, me surpreendeu quando eu achei que eu já não era tão notável, veio no meio do meu choro de cansaço e me perguntou do que o Fábio (o orientador) tinha dito naquela noite.

Ah! Pai. Todas as vezes que eu achei que ia morrer você esteve lá e no seu silêncio de sempre, falou mais do que muitas pessoas.

minha melhor valsa...meu melhor presente de aniversário...

comemoramos minhas vitórias, choramos minhas derrotas, o meu dez a banca, o meu sonhado trabalho em urbanismo.

eu tinha febre, mas fui buscar o tão sonhado carro...eu comemorei a carteira de motorista, era essa que você tanto desejava e agora ela era minha.

eu queria ser pequena pra caber dentro do seu armário onde estão suas roupas...nunca desejei tanto calçarmos o mesmo número de sapatos, só pra colocar meu pé exatamente no mesmo tamanho que os seus pés e tentar por eles descobrir como vai ser seguir agora assim tão desamparada como me sinto.

eu não quero falar, eu não desejo abrir os olhos, simplesmente porque quero que alguém me conte que foi só um sonho ruim, mas a cada manhã o dia me acorda roendo mais um pedaço dos cacos que vou juntando agora.

não era pra ser assim.

eu tenho medo de tomar banho quando chove demais, sempre espero passar um pouco, porque não podia mais te pedir pra tomar banho enquanto você fazia a barba.

eu continuo tendo que vencer o meu medo de sair de casa e mesmo sem pedir eu sabia que se eu precisasse você iria me buscar e como será agora?

eu carrego seus princípios e talvez muitos deles você nem imaginasse mais já que eu a caçula estou indo para os quase trinta anos.

Pai, a nossa separação foi tão rápida e está sendo tão dolorosa. Eu não estava pronta pra você partir assim.
Não deixamos assuntos pendentes, mas eu queria que você estivesse aqui pra todas as minhas próximas etapas, que agora parecem tão sem sentido porque eu já não vou ter quem se orgulhar tanto de mim.

Não sei no que tanto éramos parecidos, mas sei que éramos.

Não há em nenhum vocabulário palavras suficientes pra dizer quanto machuca essa ausência, esse vazio, esse espaço que agora nos separa.

Eu ainda precisava tanto de você. Me sinto ainda tão pequenina e agora tão sem quem possa me socorrer.

você sempre quis viver e viver muito e eu na contra mão e hoje mais do que nunca não sei se quero esse viver sem você.

que graça vai ter o pastel, o mcdonald's, o quintal ou o chocolatinho depois da janta? com que gosto fica o doce de leite sem seu carinho? não sei.

ah! e o café? impossível.

temos que aprender a sobreviver agora, temos que reaprender a andar.
perdi a referencia, o eixo, o norte da minha vida e agora estou à deriva, sem saber pra onde e como ir.

e a única coisa que pensei quando dei tchau pra você, quando coloquei em cima de você uma rosa amarela, era a representação da nossa amizade, da nossa cumplicidade e talvez de uma conversa na mesa da copa, eu desenhava e você observava e me disse, você está feliz né?! só te falta uma única coisa. Será nosso segredo...

amarrei seus sapatos na estação e esse laço jamais me separará de você.

mas vou seguir pai, esperando que um dia nos encontraremos e que por hora foi apenas um até breve e que de onde você estiver não se esqueça que eu amo você!



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Carnaval


Adoro pensar no dia nascendo...um clima de esperança me toma.
E mesmo em dias como o de hoje onde uma solidão fina e franca me parte em mil pedaços me provando que caminho sozinha, que quando menos espero é que estou cada vez mais perto do abismo. 
Sinto um vento que me assopra o tempo, como se ele fosse passar sem que eu tenha como vê-lo e eu agradeço não ter como me dar conta de que parte de mim me escapa por entre os dedos porque assim só me percebo quando sou obrigada a me enfrentar de frente e me dou conta do quanto envelheci.
Busco razões no meu silêncio infantil e finjo acreditar nos meus sonhos.
Engano-me para manter minha sobrevivência e me pergunto, até quando? E sinceramente não sei a resposta, talvez ela não exista.
Me viro pelo avesso...gosto de mergulhar pra não pensar...
As luzes amareladas da cidade me fazem adormecer esperando que o próximo dia seja menos cinza que o que acabou...e como uma criança que olha pro seu móbile, eu sonho acordada ao olhar as luminárias fazendo sombras nas paredes dos prédios à minha volta e uma graça rápida acontece.
Gosto do meu silêncio gélido e melancólico. Desse silêncio que vai tomando conta do que os outros não são capaz de ver.
Esse substantivo masculino, forte como um homem, expressivo como poucas palavras de grafia suave e liberta, mas de cortes profundos.
Uma ausência de vida.
Vou me calando aos poucos, buscando razões inexistentes e respostas prontas, me esquivando das condenações alheias, maquiando qualquer que seja o traço que me coloque em evidencia.
Transformo meu desejo de liberdade em um muro de proteção a mim mesma e me coloco a cuidar dos cortes que se fazem abertos de tempos em tempos, lembrando a minha realidade.
ela disse "a solidão lhe pertence e você a escolherá para a morte", foi uma dor funda e fina mas aos poucos vou me acostumando a lhe ter como companhia constante.
Tudo vai embora, menos ela...vamos nos tornando cúmplices e quando olho pra mim em dias como hoje e ela quem me sorri e de certa forma me acolhe sarcasticamente ao me provar que estava sempre certa e que o sonho era apenas um sonho...
As vezes eu acho que sou capaz de ser mais forte que ela...é quando provo do meu mais amargo veneno e sem piedade...a solidão me faz calar e sufocar toda a minha coragem e o meu cinismo ao me julgar acima dela.
Como uma criança assustada eu me escondo, deixo minhas lágrimas verterem livres e grossas pois já não há nada o que provar, mais uma vez, ela me esmaga e me faz ver o quão ínfima eu sou.
Sem que me notem (algo que busco aperfeiçoar cada vez mais) vou permeando esse caminho sem volta, treinando esse silêncio brutal que me domina. Tenho gostado de andar e apenas me ouvir respirar...
Não é fácil olhar uma realidade que estava maquiada e que em dois meses foi capaz de me provar de todas as formas o quão pode me abater e como me deixar cair como se todos os meus ossos estivessem quebrados de uma única vez.
...esperando pela quarta-feira de cinzas...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

uma noite qualquer...

  

Para ambos os gostos...
Misturamos ousadia e brincadeira e qualquer outra coisa longe de uma amizade que é cúmplice acima de muitas coisas se é que podemos chamar assim.
O barulho da chuva é intenso, o céu está cinza e faz frio apesar do verão que insiste em rotular a estação...
O quarto não é grande porém tem um ar acolhedor e intrigante...F. dorme de bruços, eu brinco com a sua respiração lenta, doce...sua pele está quente...
Estou sentada numa poltrona e velo seu sono, observo de longe sua pele arrepiar cada vez que um vento mais forte adentra por este ambiente cheio de magia.
Contemplo o seu descanso...F se move lentamente pelos lençóis e eu observo e praticamente só faço leves movimentos com a caneta que escrevo, que por sinal leva seu nome gravado no corpo...um presente de aniversário há  um certo tempo esquecido.
Suas roupas estão espalhadas pelo chão.Uma gravata preta está presa aos pés da cama...F também a usava.
Prometi não toca-lo, por mais difícil que isso possa parecer, cumprirei minha promessa até que ele diga o contrário.
Seu rosto ainda guarda uma expressão de menino, uma cicatriz revela uma "travessura" de infância, sua boca tem um contorno convidativo ao que meus sentidos pedem com volúpia e desejo...seus braços são fortes, seu corpo um deleite cheio de prazer.
A chuva se faz mais forte, o barulho da água que escorre pelo telhado transforma-se em música para o seu sono profundo.
Você suspira, eu apenas continuo sentindo o calor da sua pele...
O que poderia ser uma tortura, torna-se um desafio banhado pelo prazer de quem observa uma obra de arte.
Talvez Egon Schiele jamais tenha contemplado nenhum de seus corpos da forma com que faço agora.
Percebo desenhos, caminhos desconhecidos.
O tecido que cobre a pele é fino e claro, movimenta-se quando F. respira mais fundo, eu acho graça e sorrio no vazio me policiando pra não fazer barulho.
Não percebo que F. acordou e faz graça ao me ver encolhida na poltrona com sua caneta em punho e folhas rabiscadas, mas eu não desenhava, apenas escrevia  o prazer daquele momento. Os pensamentos estavam distantes...e me surpreendi com o sorriso de F.
O ambiente estava inebriado por um perfume de jasmim que se misturava ao seu perfume que eu inalava com prazer para a submissão do meu desejo.




sábado, 21 de janeiro de 2012

 Sinceramente não sei explicar o que senti. Tudo estava no mesmo lugar de sempre e ao mesmo tempo completamente diferente.
A pele era como uma seda fina, suave, fresca e irresistivelmente pronta para todo o tipo de carinho e carícias banhada por um misto de curiosidade e desejo, perfumada com jasmins.
Inebriada por um silencio noturno onde só a respiração acelerada era capaz de romper aquele local sepulcral de tão tênue era a linha que separava aquela solidão de uma solidez tão funda que era capaz de dilacerar como uma lâmina fina, lânguida cortando a camada mais profunda dessa pele de seda.
O corte era fundo e já não sangrava mais, mas doía como se tivesse acabado de ser feito. Os olhos piscavam disfarçando lágrimas que já se faziam grossas o suficiente para serem reveladas independente da vontade.
Uma chuva forte cai do lado de fora, sufocando qualquer que seja o som das letras, das batidas dolorosas e descompassadas dentro de um corpo que procura sem encontrar.
E tudo foi passando lentamente diante dos meus olhos. 
Num piscar de olhos, os dias já se faziam mais cinzas do que antes e como uma casa sem habitantes tudo estava coberto com uma nevoa fina e entristecida.
O tempo havia corrido mais do que antes e um vazio se faria uma presença constante e dolorosa.
Senti medo mas não dor. 
Me ouvi respirar e buscar um ar que estava pouco, lembre-me da infância, da inocência de coisas doces como balas, senti saudades de sonhos, senti falta de mim. Minha breve prece era o suficiente pra acalentar os desejos perdidos que a chuva levava embora.
Um esquecimento quase como um conforto me abraçava. Meus passos eram cambaleantes inebriados de uma solidão torpe que me golpeava a cada suspiro.
Eu não saberia lidar com isso. Lembre-me de Clarice, de Wether, de Ricardo e de tantos outros ausentes e como se fosse possível desejei me juntar a eles.
O ar era sombrio, o céu ameaçava mais nuvens tristes e pesadas de lágrimas alheias.
Na grande maioria das vezes as pessoas pensam que é possível conter o entristecimento...leigo engano.
Recorto meus ferimentos, cubro de panos brancos as feridas mais profundas, recolho as lágrimas que ensopam o travesseiro, escondo a palidez do meu rosto e meu corpo nada lânguido se encarrega de não mostrar a fraqueza do suportar-se em pé.
Deixo me abater numa luta que sem delongas estou farta e muito cansada para conter.
No fundo não restou nada. Recolho os cacos espalhados pela casa, colo algumas peças, deixo outros lugares vazios.

E assim mais um dia termina.



domingo, 1 de janeiro de 2012

a árvore dos desejos


o dia se apresentou com uma névoa branca...o tempo foi curto para tantas coisas que o dia desejava...ao sair me deparei com a luz âmbar que sem delongas deixa tudo num passado do qual eu não vivi mas gostaria de pertencer as vezes...eu queria encontrar os morcegos do largo São Francisco...eu queria ter você a minha espera e eu queria lhe presentear com o mais doce dos beijos.
a vida era frágil, eu tentava ser forte o suficiente pra resistir...resistir a pele que se arrepiava com seu toque...uma pele macia, fina, branca e gélida que você mapeava na ponta dos dedos como se meu corpo fosse uma inscrição em braile banhada de perfume e doce ao seu paladar.
completamente mergulhada no prazer que seus olhos transmitiam, inebriada de um desejo que não cabia em mim, entregue a sua volúpia o mundo parecia perfeito.
eu estava lá, o mundo girava como o líquido adocicado que coloria a taça de um vermelho escuro...ia deixando na boca um gosto bom e suave.
a música me inebriava a alma e eu de olhos fechados me deixava levar por cada nota que ela emitia, meu corpo inerte não era capaz de prestar atenção a nada que não fosse a obrigação de me fazer sentir toda aquela vida que eu queria consumir.
o perfume dos jasmins me entorpeciam...
eu desejei que as horas não passassem, desejei que nada fosse diferente e ao mesmo tempo não desejei mais nada que não fosse estar exatamente alí.
eu quis respirar todo aquele perfume e esperei que lentamente ele penetrasse a minha pele.
a vida passou a ter um significado diferente, uma chuva forte e quente, torrencialmente...deixei meu corpo ser lavado e o perfume se misturava a água que escorria pelo meu corpo e espalhava-se pelos caminhos....adormeci com o meu desejo mais intenso, o de ser feliz!