Era impossível estar naquele lugar e não se lembrar de tudo que tínhamos dito um ao outro.
Alimentados pelo sonho que é o cinema, nos permitíamos sonhar acordados. Fechei os olhos e por uns instantes desejei te encontrar naquela sala.
Tudo tinha a ver com você...Asas do Desejo, Cinemateca, Wim Wenders, a trilha sonora, a imagem formando uma fotografia doce apesar do peso da guerra.
Ela flutuava no trapézio e ele a desejava sem conseguir sentir a pele que ele tocava.
Ela queria parecer um anjo e ele queria parecer um humano.
Tudo era tão doce. Tão simples. Tão singelo. Tão sem pretensão de ser.
E por isso talvez acontecesse tão doce.
Porque teve que ser assim? Me pergunto mil vezes porque eu não me calei? Porque eu tinha que te contar sobre o friozinho doce que eu sentia quando você me telefonava ou no momento em que marcávamos mais um dos nossos “encontros” doces.
Cinema? Café? Tanto fazia desde que você fosse a companhia.
Era meu porto seguro na sexta a noite. Era meu melhor amanhecer de sábado e o mais esperado inicio da semana no domingo.
Os dias caminhavam...e eu repleta de uma felicidade que não me cabia e ao mesmo tempo não entendia ao certo como acontecia.
Sabe o que ouço agora? By this River – Brian Eno. Você me deu essa música, me ensinou a amá-la e eu amei. Amei mais que tudo sem saber que seria ela que diria depois que meu céu estava caindo, caindo...down down.
You and I...down down.
Tudo acabava num piscar de olhos, não haveriam mais emails, nem cafés, nem cinemas, simplesmente passaria a ser como se eu nunca tivesse existido pra você.
Doeu!
Dói e irá doer porque perder amigos é sempre doloroso.
Perdi alguns e por isso continuo me punindo porque quase sempre sou a culpada por perde-los.
Talvez se eu tivesse mantido meu silencio, se meu coração não me traísse pregando peças a minha insignificante presença no mundo.
Vazio, foi apenas isso que sobrou, o vazio ocupado de sempre.
O espaço que vai ficando cada vez mais frio dentro de mim.
Como no conto de fadas da Bela e a Fera...não há o que esperar, será assim pra sempre e como não vivo num conto de fadas, chamo isso de destino. Aceito!
Não há nada pra questionar. Como um réu culpado aceito a condenação oferecida por você.
Peço perdão a mim por ter olhado pra você com doçura e encantamento, esquecendo qual era o meu devido lugar.
"E." , só te peço perdão pelo que nem sei ter cometido.
Durma sempre bem, dê asas ao seu desejo, voe, acredite e saiba sempre que eu só quis o seu bem.