quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Para E.


Era impossível estar naquele lugar e não se lembrar de tudo que tínhamos dito um ao outro.

Alimentados pelo sonho que é o cinema, nos permitíamos sonhar acordados. Fechei os olhos e por uns instantes desejei te encontrar naquela sala.

Tudo tinha a ver com você...Asas do Desejo, Cinemateca, Wim Wenders, a trilha sonora, a imagem formando uma fotografia doce apesar do peso da guerra.

Ela flutuava no trapézio e ele a desejava sem conseguir sentir a pele que ele tocava.

Ela queria parecer um anjo e ele queria parecer um humano.

Tudo era tão doce. Tão simples. Tão singelo. Tão sem pretensão de ser.

E por isso talvez acontecesse tão doce.

Porque teve que ser assim? Me pergunto mil vezes porque eu não me calei? Porque eu tinha que te contar sobre o friozinho doce que eu sentia quando você me telefonava ou no momento em que marcávamos mais um dos nossos “encontros” doces.

Cinema? Café? Tanto fazia desde que você fosse a companhia.

Era meu porto seguro na sexta a noite. Era meu melhor amanhecer de sábado e o mais esperado inicio da semana no domingo.

Os dias caminhavam...e eu repleta de uma felicidade que não me cabia e ao mesmo tempo não entendia ao certo como acontecia.

Sabe o que ouço agora? By this River – Brian Eno. Você me deu essa música, me ensinou a amá-la e eu amei. Amei mais que tudo sem saber que seria ela que diria depois que meu céu estava caindo, caindo...down down.

You and I...down down.

Tudo acabava num piscar de olhos, não haveriam mais emails, nem cafés, nem cinemas, simplesmente passaria a ser como se eu nunca tivesse existido pra você.

Doeu!

Dói e irá doer porque perder amigos é sempre doloroso.

Perdi alguns e por isso continuo me punindo porque quase sempre sou a culpada por perde-los.

Talvez se eu tivesse mantido meu silencio, se meu coração não me traísse pregando peças a minha insignificante presença no mundo.

Vazio, foi apenas isso que sobrou, o vazio ocupado de sempre.

O espaço que vai ficando cada vez mais frio dentro de mim.

Como no conto de fadas da Bela e a Fera...não há o que esperar, será assim pra sempre e como não vivo num conto de fadas, chamo isso de destino. Aceito!

Não há nada pra questionar. Como um réu culpado aceito a condenação oferecida por você.

Peço perdão a mim por ter olhado pra você com doçura e encantamento, esquecendo qual era o meu devido lugar.

"E." , só te peço perdão pelo que nem sei ter cometido.

Durma sempre bem, dê asas ao seu desejo, voe, acredite e saiba sempre que eu só quis o seu bem.



domingo, 24 de outubro de 2010

as Asas do meu Desejo
















eu precisava daquele sorriso de antes, eu queria aquele mesmo jeito de olhar, eu desejava aquela timidez de quem não tinha a menor idéia do que fazer, eu procurava por aquela inocência dos nossos primeiros olhares cruzados.
observava você de longe sabendo que eu jamais te tocaria e muito menos te teria por perto.
deixei que as lágrimas caíssem.
eu estava no alto daquele prédio e só esperava que o vento soprasse pra que eu pudesse pular.
tudo estava cinza e o que eu pensava era apenas no que eu não saberia como era viver.
pulei!
senti o vento atravessar meu corpo como se fosse um pedaço de papel.
eu gosto da escrita, gosto das suas fotos, gosto do gosto de mato molhado depois da chuva, gosto de ver meus livros misturados aos seus...gosto dos filmes separados pela nossa vontade de vê-los.
pode parecer incrível aos olhos alheios mas você se torna extremamente desejável quando fala dos planos...
olhei da janela, escutei a chuva, olhei pro apartamento, as nossas coisas ainda meio bagunçadas, as suas fotos, os projetos que já não sabemos de quem são, os livros de poesia...pablo neruda, mario quintana.
adoro aquele tenis meio velho...com aquela camisa xadrez...conto dez passos até a pilha mais próxima sobre o taco da sala...escolhemos assim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

M.


um sol lindo amanhecia, a paisagem foi ficando pra trás com a entrada do túnel, o metrô hoje se fazia silencioso, eu ouvia "inverse" e escondia meu sono atrás das lentes escuras, quando pisquei e te vi do outro lado, demorei a crer que era você mesmo, concentrado na sua mochila, você se perdia dentro dela...rs

de repente tudo parecia menos visível, te observei por uns instantes contemplando seus movimentos que denunciavam um jeito de sono, era quase infantil como você passava a mão no olho.

enquanto eu te olhava uma sensação de vazio me invadia, você estava do outro lado do vagão e ao contrário de lá, na minha vida eu não consigo chegar até você.

seus movimentos me pareciam em camera lenta, eu achava graça e ao mesmo tempo me intrigava um obstáculo humano que não me deixava te alcançar.

até que toquei seu braço "está atrasado moço?" você sorriu e o dia se iluminou, percorremos um caminho curto e como uma criança eu queria parar os degraus da escada só pra que eles subissem mais lentamente.
no fim da escada como um sonho que se desfaz você foi para um lado e eu para o outro, mas o meu dia já seria melhor pela doçura daqueles instantes.

bom dia M.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

os últimos dias...















Passei dias fugindo, correndo das minhas palavras, correndo...correndo...sentindo o vento me atravessar, mas eu precisava correr...eu precisava sair em fuga do que seria um devaneio de despedida de mim mesma.
Não tive vontade de abrir os olhos, meu corpo pesava mais do que eu podia suportar, eu quis ficar na cama sem notar que o dia amanhecia e as atividades deviam recomeçar.
Por mais ridículo que pareça eu sentia a tristeza de um mundo inteiro...chovia e eu chorava.
Adormeci por mais meia hora mas não sem antes ensopar o travesseiro de toda aquela tristeza que me deixava ver tudo sem nenhuma cor.
Levantei-me nublada como o tempo e procurei alguma, qualquer que fosse a razão que me manteria em pé. Pensei nos meus pais, no que eles sonhavam e quantos desses sonhos depositaram em mim e eu não os iria cumprir e até quem eu menos esperava essa semana resolveu tirar as casquinhas dos meus machucados..."ela acha que todas as crianças são como ela, que entra na história e vive os personagens, que absurdo."
Doeu...eu não sou assim.
Demorei muitos dias pra vir aqui, agora é inevitável não deixar as lágrimas caírem.
Estive quieta, distante, pensativa demais, por alguns dias eu sequer quis expressar uma palavra e pela primeira vez sem ser uma tentativa eu calei-me para o mundo.
Olhei o céu ameaçador, vi as pessoas andarem apressadas tentando evitar a chuva, observei guarda chuvas abrindo dando um colorido na paisagem cinza...coloridos, de bolinhas, listras, pretos...alguns giravam no ar.
Há um vazio dentro de tudo que se aproxima. Eu queria me transformar cada vez menos perceptível, eu quis um isolamento de mim mesma, observei minha própria respiração e como criança eu desejei que a vida tivesse gosto de bala de goma [verdes e laranjas].
As ruas foram ficando desertas, as luzes foram se acendendo amareladas paradas no tempo...entrei...o mosteiro estava praticamente vazio...aquele oásis me encheu de uma paz que não tinha tamanho, não era suficiente pra me alegrar mas amenizava o peso da tristeza solitária.
respirei fundo, enchendo os pulmões de ar como se fosse mergulhar...rezei.
Deixei as lágrimas correrem, pedi por mim e por todos que amo e até pelos que não me querem bem...o banco rangeu...pedi luz ao me caminho.
Buscava ali uma razão...sinto vergonha por as vezes ter que procurar essa razão, vendo que há tantos que sofrem, tantos que choram e mesmo assim são tomados de razões.
Resumi minha ausência aquele banco, escondida de mim mesma na penumbra daquela luz amarelo de ontem.
Caminhei sem olhar as pessoas ao lado, eu não era capaz de ouvi-las...com a minha solidão guardada na bolsa, um aperto se deu dentro de mim...por mais insignificante que seja minha existência ainda tenho funções e obrigações, essas eram as minhas razões.
Jurei a mim não importunar mais aqueles que ainda se compadecem para serem amigos, ou anjos que me emprestam as suas asas todas as vezes que as minhas me mostram incapazes de me carregar.
Eu tentei bater minhas asas, mas elas estão machucadas...toda borboleta, bonita ou feia, pára de bater as asas quando estão prestes a morrer e escolhem por natureza a solidão.
Revi alguns cacos do meu mosaico e me cortei quando vi que tinham razão no que dizem sobre eu vivenciar um personagem e doeu de novo.
Dói ver tantos defeitos em cacos tão pequenos e de louça barata, essa sou eu. Tem dias que essa ausência ainda me causa espanto.
Onde foi que me perdi? onde ganhei essa tristeza toda? esse vazio de mim mesma? perguntas que talvez nunca venham ter uma resposta.
Eu estava ali na beiradinha, mas tive medo...medo do meu medo...voltei pra casa e mais uma vez deixei que o travesseiro guardassem minhas lágrimas secretas, onde os olhos pesariam me fazendo adormecer cansada de uma guerra que eu sei que não vou vencer.