sábado, 23 de abril de 2011

Pelas escadarias da São Francisco


Tudo era uma surpresa, um frio na barriga que corria junto aos ponteiros do relógio...uma ansiedade me consumia já haviam dias e quando você disse que vinha eu demorei a acreditar e tudo corria, corria mais rápido do que eu podia imaginar.
Quando o telefone tocou, minhas mãos ficaram geladas e um alô quase não era capaz de sair, do outro lado da linha uma voz que já me era familiar pela quantidade de vezes que eu ouvi algo que você gravou e falava sobre o coração enquanto você estudava para a prova de cardiologia, nesse minuto a voz dizia cheguei...e foi a vez do meu coração disparar e dizer já estou indo.
O elevador passava pelos andares mais lento do que a minha vontade...as luzes amarelas da rua vinham me receber, caminhei pelo corredor de luz que me levavam até você no fim da rua que não poderia ter outro nome senão Boa Vista.
L. foi o que disse ao te ver na penumbra e senti meu corpo paralisar quando me abraçou e disse você é exatamente como eu imaginava, naquele instante o mundo parou de girar e eu desejei imortalizar aquele momento.
Caminhávamos pelas ruas sendo observados pela arquitetura dos prédios que nos vigiavam, as luzes emolduravam seu corpo e iluminavam seu sorriso doce.
Quando adentramos o prédio, eu quase não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo e menos ainda na descrição que você fazia dos espaços, das salas, dos vitrais, dos quadros...na escadaria o salão nobre, eu sorria e brincava com contos de fadas, me imaginava naquele salão trajando um lindo vestido longo, chapeu e a espera do meu cavalheiro que achava graça da minha imaginação e eu o imaginava na sua vestimenta de príncipe e onde valsariamos trocando olhares e ao final meu lenço cairia indicando que meu coração havia sido conquistado...variando entre citações de Mario Vargas Llhosa e Goethe.
As palavras me encantavam, o sorriso me seduzia e como criança eu me deixava levar pelos seus passos...
"como me deleitava, durante a conversa, com aqueles olhos negros...como toda a minha alma era atraída pelos lábios vívidos e pela face radiante e alegre...como eu, absorvida pela magnitude de seus pensamentos, não ouvia as palavras com as quais ele se expressava..." (no masculino).
seus passos me conduziam dentro daquele edifício cheio de significados históricos que me envolviam e cheio de significados dentro da sua história de vida que você abria como um livro sob meus pés...a sala que você estudou...o trote...18 meses dificeis daquele seu período academico.
eu não podia dizer porque eu não os via, mas sentia meus olhos brilharem a cada uma de suas palavras.
eu sabia que aquele lugar me atraía, só não imaginaria conhece-lo através dos seus olhos...eu estive na porta tantas vezes e algo me faria não entrar, foi necessário que você me apresentasse aquele ambiente de magia e encantamento.
são francisco...esteve em algumas de minhas histórias preferidas, abriu os olhos pra uma São Paulo de fim de século com os morcegos do largo - estudantes de direito...e eu a conheceria pelos olhares ávidos e meticulosos de um estudante de medicina.
ah! nem mesmo em meus cinco anos de arquitetura eu tive tamanho prazer em uma visita.
posso fechar os olhos que confundo o seu perfume ao cheiro das madeiras que ecoam pelos corredores...os pátios internos e suas peculiaridades.
A vida me reservava uma linda surpresa: em um único dia duas coisas novas, uma nova pessoa que me traria uma nova viagem.
Desejo com volúpia que este tenha sido o primeiro anoitecer de muitos ao seu lado, com sua confissão sobre o centro da cidade, com o seu carinho pelas coisas que toca, com a sua alma doce de anjo recém descido das nuvens.
A você L-F o meu carinho profundo.

sábado, 9 de abril de 2011

platônico

já comecei a escrever várias vezes e as palavras fogem como o futuro que tento desenhar e não consigo. a ausência presente me devora os dias e as horas na incerteza do meu desejo. eu quis esquecer, eu quis fazer parecer que eu decidia em que cenário eu poderia te inserir...foi em vão. eu deixo de procurar e te acho perdido nas minhas coisas, eu posso deixar de te olhar porém quando fecho os olhos é você que eu vejo rabiscado nos meus rascunhos indiscretos, indecentes, e condescendente ri ao meu ato repressor. eu respiro e é o seu perfume que eu nem mesmo conheço o que me inebria de volúpia, desejo e magia. uma melancolia doce e um sentimento de nostalgia me invade, me acolhe, me faz esquecer e sem perceber eu aceito a condenação que me oferece, como o doce veneno que sem piedade despeja em minha boca. os olhos piscam, a maquiagem escorre, as lágrimas explodem no rímel, a ferida está aberta... a respiração é ofegante, parece sufocar...sem que haja volta eu me entrego, você me conduz pelos seus passos.
abro os olhos e vejo que tudo não passou de um sonho.