sábado, 22 de outubro de 2011

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tem dias em que é assim, os olhos abrem, fazem força pra piscar e você se faz aquela pergunta: porque é que estou assim? sem entender carrega o dia como se fosse a única coisa que tivesse que fazer, carregar a sí mesmo sem que isso seja nada mais que uma obrigação.
uma tristeza infinita enche os olhos de lágrimas que mesmo que eu não permita insistem em cair e continuo me perguntando o porque e ai vou descobrindo que muita coisa me deixa triste, a fome, a miséria, a falta de saúde, a falta de humanidade e acima de tudo a falta de compaixão, e me sinto envergonhada de tanta tristeza. De fato J. tem razão quando me diz se não é feliz, faça algo, nem que seja se jogar da janela. Acho que por anos imaginei que isso dela eu jamais escutaria. E no fim o que dói não é o ouvir e sim saber que ela tem lá sua razão, mas desde que me entendo por gente sou assim, fraca, covarde comigo mesma e assim vou carregando a vida.
Quando vem um embate como o de hoje, sinto o mundo pesando na minha cabeça, quanta tristeza por uma doença silenciosa que chega aos poucos, debilitando, atrofiando...morrer consciente deve ser doloroso demais e eu pareço uma esponja...absorvo e muda me dilacero em mil pedaços ainda com vergonha da minha tristeza sem precedentes.
eu não queria que fosse assim.
queria não ser um peso na vida de quem me cerca, queria ser motivo de orgulho mas o fato é que mais uma vez alguém que já me disse isso tem razão...não sou nada pra ninguém e acho que no fundo e no fim das contas nem para mim mesma.
hoje brigo com o peso que não consigo perder, brigo com as roupas que vão deixando de servir e ficarem bonitas e com aquelas que nunca usarei porque meu bom senso diz que elas não foram feitas pra mim.
não há nada tão frustrante do que entrar numa loja querer uma coisa e ela simplesmente ficar péssima em você, porque o manequim para o qual ela está projetada e sendo vendida é a metade da pessoa que quer comprar.
outro dia passei em frente a uma loja que vendia roupas em tamanhos grandes (modo generoso de nos chamar) e ai na vitrine misturado aos manequins barris, fiquei horas me perguntando de quem seria tal idéia tão monstruosa e claro não encontrei uma resposta.
bom mas não era disso que eu ia escrever e sim dessa falta de vontade, desse jeito de quem um dia viu que era importante pra alguém e hoje não é mais nem pra sí mesma.
sim, é assim que eu me sinto vergonhosamente.
sentimos falta das pessoas ou pelo menos eu sinto, mas tenho certeza de que eu não faria falta pra ninguém.

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tá virando rotina me fazer chorar...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Utopia



Há mais de dois meses eu frequento o anexo apenas me recordando de fragmentos do que vivi, porém agora escrever se faz mais necessário do que nunca. Eu preciso sobreviver a mim e a você.


Eu sentia meu corpo dilacerado por um desejo desesperador...eu não sabia pra onde você ia e nem o que esperava daquela noite...desejei que o sono me consumisse só para que eu não pudesse mais alimentar a minha angustia, em vão pois você habita meus sonhos.


Deixo me levar pela noite que é de calor e chuva fina...ouço a água escorrer por entre as árvores, dentro de mim algo se mistura, sinto você passear pela minha pele, deslizando em cada curva como se conhecesse aquele corpo completemente em suas mãos...me transporto pra outra dimensão e lhe concedo todos os direitos aos quais a volúpia da sua vontade me impõe.


Gosto dessa submissão ao seu desejo, fecho meus olhos e inicio uma viagem que parece sem fim...respiro fundo tentando absorver todos os perfumes daquela paisagem, quente, húmida, cheia de símbolos e significados como um capa que nos protege.


Você brinca com os meus sentidos, sorri como uma criança quando sabe que faz uma traquinagem, mas me surpreende com a força adulta que me segura em seus braços. Meus batimentos se aceleram no mesmo ritimo do aumento do seu desejo...me rendo aos teus encantos e a vida parece ganhar novos sentidos pelo brilho dos teus olhos, onde mergulho num mar profundo do seu prazer. A linha que nos separa da alegria e do abismo é tão tênue que as vezes parecem ser uma só, como os corpos que se misturam, como as bocas que se consomem e como uma vontade que parece nunca ter sido diferente uma da outra. Sem saber ao certo onde terminava o sonho e começava a realidade o dia se apresentaria com um sol delirante e um céu azul de fim de outono que me faria lembrar sem vergonha daquela praia, daquele dia de sol gélido e dilacerante de inverno...ao fechar os olhos eu poderia ouvir de novo a sua respiração acompanhando o ritmo das ondas daquele mar que nos banhava de paz e nos enchia de vida. Chorei...por instantes quis parar o tempo para que aquele dia nunca tivesse terminado, pra que não tivesse sido tão doloroso te ouvir depois, pra que você nunca tivesse me visto chorar, pra que você nunca tivesse deixado de compreender o que talvez jamais tenha compreendido. Desejei que o mar pudesse me devolver toda aquela felicidade daquele dia com gosto de sorvete de chocolate italiano...de sombras nas paredes e calçadas de uma cidade complexa e cheia de histórias...que me encanta tanto quanto o seu sorriso, que me faz perder os sentidos, que me deixa sem saber pra onde e como ir. A garota esperta que sempre tem uma resposta perde a fala e se denuncia pelos olhos de quem quer mais, muito mais e ao mesmo tempo quer que tudo seja tão simples, tão singelo, tão doce como chocolate... Uma vertigem prazerosa toma conta do meu corpo...sinto-me acalentada...com um beijo doce encerra-se o sonho ou acorda-me para a vida e assim renovo meu amor de corpo e alma.