sábado, 21 de janeiro de 2012

 Sinceramente não sei explicar o que senti. Tudo estava no mesmo lugar de sempre e ao mesmo tempo completamente diferente.
A pele era como uma seda fina, suave, fresca e irresistivelmente pronta para todo o tipo de carinho e carícias banhada por um misto de curiosidade e desejo, perfumada com jasmins.
Inebriada por um silencio noturno onde só a respiração acelerada era capaz de romper aquele local sepulcral de tão tênue era a linha que separava aquela solidão de uma solidez tão funda que era capaz de dilacerar como uma lâmina fina, lânguida cortando a camada mais profunda dessa pele de seda.
O corte era fundo e já não sangrava mais, mas doía como se tivesse acabado de ser feito. Os olhos piscavam disfarçando lágrimas que já se faziam grossas o suficiente para serem reveladas independente da vontade.
Uma chuva forte cai do lado de fora, sufocando qualquer que seja o som das letras, das batidas dolorosas e descompassadas dentro de um corpo que procura sem encontrar.
E tudo foi passando lentamente diante dos meus olhos. 
Num piscar de olhos, os dias já se faziam mais cinzas do que antes e como uma casa sem habitantes tudo estava coberto com uma nevoa fina e entristecida.
O tempo havia corrido mais do que antes e um vazio se faria uma presença constante e dolorosa.
Senti medo mas não dor. 
Me ouvi respirar e buscar um ar que estava pouco, lembre-me da infância, da inocência de coisas doces como balas, senti saudades de sonhos, senti falta de mim. Minha breve prece era o suficiente pra acalentar os desejos perdidos que a chuva levava embora.
Um esquecimento quase como um conforto me abraçava. Meus passos eram cambaleantes inebriados de uma solidão torpe que me golpeava a cada suspiro.
Eu não saberia lidar com isso. Lembre-me de Clarice, de Wether, de Ricardo e de tantos outros ausentes e como se fosse possível desejei me juntar a eles.
O ar era sombrio, o céu ameaçava mais nuvens tristes e pesadas de lágrimas alheias.
Na grande maioria das vezes as pessoas pensam que é possível conter o entristecimento...leigo engano.
Recorto meus ferimentos, cubro de panos brancos as feridas mais profundas, recolho as lágrimas que ensopam o travesseiro, escondo a palidez do meu rosto e meu corpo nada lânguido se encarrega de não mostrar a fraqueza do suportar-se em pé.
Deixo me abater numa luta que sem delongas estou farta e muito cansada para conter.
No fundo não restou nada. Recolho os cacos espalhados pela casa, colo algumas peças, deixo outros lugares vazios.

E assim mais um dia termina.



domingo, 1 de janeiro de 2012

a árvore dos desejos


o dia se apresentou com uma névoa branca...o tempo foi curto para tantas coisas que o dia desejava...ao sair me deparei com a luz âmbar que sem delongas deixa tudo num passado do qual eu não vivi mas gostaria de pertencer as vezes...eu queria encontrar os morcegos do largo São Francisco...eu queria ter você a minha espera e eu queria lhe presentear com o mais doce dos beijos.
a vida era frágil, eu tentava ser forte o suficiente pra resistir...resistir a pele que se arrepiava com seu toque...uma pele macia, fina, branca e gélida que você mapeava na ponta dos dedos como se meu corpo fosse uma inscrição em braile banhada de perfume e doce ao seu paladar.
completamente mergulhada no prazer que seus olhos transmitiam, inebriada de um desejo que não cabia em mim, entregue a sua volúpia o mundo parecia perfeito.
eu estava lá, o mundo girava como o líquido adocicado que coloria a taça de um vermelho escuro...ia deixando na boca um gosto bom e suave.
a música me inebriava a alma e eu de olhos fechados me deixava levar por cada nota que ela emitia, meu corpo inerte não era capaz de prestar atenção a nada que não fosse a obrigação de me fazer sentir toda aquela vida que eu queria consumir.
o perfume dos jasmins me entorpeciam...
eu desejei que as horas não passassem, desejei que nada fosse diferente e ao mesmo tempo não desejei mais nada que não fosse estar exatamente alí.
eu quis respirar todo aquele perfume e esperei que lentamente ele penetrasse a minha pele.
a vida passou a ter um significado diferente, uma chuva forte e quente, torrencialmente...deixei meu corpo ser lavado e o perfume se misturava a água que escorria pelo meu corpo e espalhava-se pelos caminhos....adormeci com o meu desejo mais intenso, o de ser feliz!