sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Carnaval


Adoro pensar no dia nascendo...um clima de esperança me toma.
E mesmo em dias como o de hoje onde uma solidão fina e franca me parte em mil pedaços me provando que caminho sozinha, que quando menos espero é que estou cada vez mais perto do abismo. 
Sinto um vento que me assopra o tempo, como se ele fosse passar sem que eu tenha como vê-lo e eu agradeço não ter como me dar conta de que parte de mim me escapa por entre os dedos porque assim só me percebo quando sou obrigada a me enfrentar de frente e me dou conta do quanto envelheci.
Busco razões no meu silêncio infantil e finjo acreditar nos meus sonhos.
Engano-me para manter minha sobrevivência e me pergunto, até quando? E sinceramente não sei a resposta, talvez ela não exista.
Me viro pelo avesso...gosto de mergulhar pra não pensar...
As luzes amareladas da cidade me fazem adormecer esperando que o próximo dia seja menos cinza que o que acabou...e como uma criança que olha pro seu móbile, eu sonho acordada ao olhar as luminárias fazendo sombras nas paredes dos prédios à minha volta e uma graça rápida acontece.
Gosto do meu silêncio gélido e melancólico. Desse silêncio que vai tomando conta do que os outros não são capaz de ver.
Esse substantivo masculino, forte como um homem, expressivo como poucas palavras de grafia suave e liberta, mas de cortes profundos.
Uma ausência de vida.
Vou me calando aos poucos, buscando razões inexistentes e respostas prontas, me esquivando das condenações alheias, maquiando qualquer que seja o traço que me coloque em evidencia.
Transformo meu desejo de liberdade em um muro de proteção a mim mesma e me coloco a cuidar dos cortes que se fazem abertos de tempos em tempos, lembrando a minha realidade.
ela disse "a solidão lhe pertence e você a escolherá para a morte", foi uma dor funda e fina mas aos poucos vou me acostumando a lhe ter como companhia constante.
Tudo vai embora, menos ela...vamos nos tornando cúmplices e quando olho pra mim em dias como hoje e ela quem me sorri e de certa forma me acolhe sarcasticamente ao me provar que estava sempre certa e que o sonho era apenas um sonho...
As vezes eu acho que sou capaz de ser mais forte que ela...é quando provo do meu mais amargo veneno e sem piedade...a solidão me faz calar e sufocar toda a minha coragem e o meu cinismo ao me julgar acima dela.
Como uma criança assustada eu me escondo, deixo minhas lágrimas verterem livres e grossas pois já não há nada o que provar, mais uma vez, ela me esmaga e me faz ver o quão ínfima eu sou.
Sem que me notem (algo que busco aperfeiçoar cada vez mais) vou permeando esse caminho sem volta, treinando esse silêncio brutal que me domina. Tenho gostado de andar e apenas me ouvir respirar...
Não é fácil olhar uma realidade que estava maquiada e que em dois meses foi capaz de me provar de todas as formas o quão pode me abater e como me deixar cair como se todos os meus ossos estivessem quebrados de uma única vez.
...esperando pela quarta-feira de cinzas...