
Me perco nos meus próprios poemas. Procuro pelo meu poeta, mas ele não quer ser encontrado.
Eu o desejo com toda a intensidade do mundo mas encolho-me a minha ausência a cada vez que ele se aproxima.
A solidão me conforta.
Busco em palavras os sentimentos que não encontro. Busco em uma ausência a presença de quem já há muito não se faz presente.
Abro os olhos todas as manhãs esperando o que já não é esperado.
Deixo a água molhar meu corpo, o sol as vezes me procura pra dizer que estou viva.
Mas hoje nada me fazia querer levantar. Ficar em pé as vezes é tão doloroso.
Eu olhei aquele apartamento como se nele estivessem as respostas que busco. Ele era pequeno como eu, mas tinha uma solidão enorme dentro dele e sei que sorria ao me abraçar na porta de entrada.
Um certo receio me invadia pela proximidade que ficavamos, era como se eu tivesse achado o lugar que sempre procurei e ao mesmo tempo havia um medo de que lá fosse o meu lugar para sempre.
Aquela empena cega pra onde eu abria a janela me deixava um pouco triste, como se eu não pudesse ver além daquela paisagem.
Contei os passos, caminhei e descobri que éramos de alguma forma um para o outro. Um sonho de liberdade ou melhor dizendo a minha sociedade.
Meus poetas mortos, meus livros esquecidos, meus personagens jamais vistos.
Senti uma paz imensa tomar conta de mim e a desacelerar meus batimentos cardíacos.
Encontrei meu lugar.
Sem pensar lancei-me, senti o vento, senti saudades de quem eu sabia que não veria mais, senti o impacto do meu corpo e neste momento nada em mim respondia.
A sociedade dos poetas mortos me recebia.