quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ausente

O vestido era quase branco, a pele quase bege, a chuva forte e a alma em pedaços.
O corpo caminhava naquela paisagem melancólica e se deixava lavar pela chuva que colava o tecido a minha pele.
Um arrepio doce parecia envolver-me e ao fechar os olhos eu procurava pelos seus braços, e ao abrir me deparava com a sua ausência.
Sinto saudade de uma época que não vivi, sinto falta do seu passado e do meu presente.
Me alimento do que você me oferece.
A chuva aumenta e a minha tristeza também.
O café me aquecia, mas o gosto da minha boca ainda era o da sua que não provei.
Os olhos podiam falar mais do que o que eu queria que eles dissessem e eu os fechava pelo peso das minhas lágrimas.
Meu choro revelava a minha fraqueza e a ausência de mim mesma.
Eu lembrava dos meus passos no mar, das estrelas que olhei, das nuvens que contei.
Contemplei essa beleza pela luz dos seus olhos.
Te contei meus segredos sem que você pudesse ouvi-los, te toquei sem que você sentisse, te olhei sem que você notasse, te amei sem que você desejasse.
A vida se movimentava cada vez que você sorria.
Eu achava graça no jeito de moleque que escondia o cara sério.
Eu sentia o vento e o seu toque pela minha pele, tatiando meu corpo e decorando cada pedaço da minha vida.
Caminhei na beira do abismo.
Chorei.
Pedi por mim.
Olhei para o corpo agora completamente envolto no vestido colado a pele e me encolhi.
Senti medo, frio, calor, meu desejo e sua ausência.
Um vazio ocupado. Um espaço que aprendo a contornar todos os dias, esperando pelo inesperado.