terça-feira, 3 de março de 2009

Cheiro de Relva

Sem perceber os corpos vão ocupando espaços no salão que não é grande...a solidão dos seres apenas vivos vai preenchendo aos poucos as dezenas de cadeiras espalhadas de modo a ajudá-los a se ver mas a não olhar para os outros.
A música que embala as almas deste lugar é melancólica e em dias de inverno ou de chuva, a paisagem só não é mais bucólica porque não há mais espaço para tantos destinos perdidos...as vezes é possível se ter a sensação de que as pessoas estão inertes porém suas mentes não estão neste ambiente...elas comem caladas, sufocando dentro de sí a certeza da solidão, a tristeza da falta de palavras, elas perguntam e elas mesmas respondem...elas observam e comentam...caladas.
Talvez chorem...talvez sorriam...mas em seus rostos há apenas um semblante...triste, vazio...
Uma bancada voltada para a janela é o mais alto ponto deste lugar...as pessoas se sentam sem perceber nem mesmo quem está ao lado...permanecem comendo seus alimentos da mesma forma com que chegaram...mudas...observam o nada através da sequência de vidraças que fazem moldura para a fachada do prédio vizinho...as vezes é deprimente, mas em muitas vezes é confortante...não sei explicar mas é calmo...como se alí fosse um refúgio onde se pode esconder-se, pensar, lembrar, rir de sí ou chorar por você mesmo.
Geralmente estamos presentes e ao mesmo tempo ausentes...o corpo ocupa o espaço mas os pensamentos...ah! os pensamentos...esses estão tão distantes que podem até nos assustar por nos levar tão longe.
O cheiro de relva é assim...uma montanha onde todos olham para o horizonte que sabem que jamais conseguirão alcançar...há dor, há choro, mas pode-se dizer que há um ar de alegria por se permitirem sonhar...alí como no anexo, as pessoas se protegem de sí mesmas...de seus pensamentos dolorosos, cheios de sonhos não realizados, de desejos não cumpridos e de cenas não vividas.