segunda-feira, 17 de maio de 2010

Corpo e alma

Foi necessário insistir para abrir os olhos. Estou de novo em Nova York.
Chorei muito ao deixar Londres e o amor de Gabe, adormeci ouvindo come away with me in the night, porque quase sempre acho que dormindo me sinto protegida de mim mesma.
Desejei desesperadamente, que não me fizesse chorar e até me mantive firme por um bom tempo, mas não resisti, entreguei-me as lágrimas como se elas pudessem fazer diminuir o que sinto.
Senti que tocava a minha pele, me aquecia, me abraçava.
Como se tivesse medo de perder, me apertava em seus braços e assim me faria sonhar.
Senti a respiração e um arrepio que percorria o corpo todo.
Você sorria como se brincasse comigo e eu queria ir além. Queria mais do que a inocência de nossas brincadeiras.
Me entreguei quando seus olhos encontraram os meus. Por eles você descobriria todos os meus segredos e senti todo o peso do seu corpo em febre sobre mim.
Senti o vento me assoprar e sorri pelo frio na barriga que senti e me vi na direção contrária.
Um estranho que me conhecia tão bem, uma sintonia inacreditável, uma cumplicidade em cada gesto.
Palavras não eram necessárias pra que você adivinhasse os meus pedidos.
Estávamos na mesma linguagem com corpo, alma e desejo.
Você mapeava meu corpo e eu achava graça.
Em silêncio observamos o céu, contamos estrelas, desenhamos nas nuvens.
A cidade se movimentava freneticamente e ao mesmo tempo tudo parecia em câmera lenta.
Acordei ainda sentindo o calor do seu corpo ao meu lado.
Quero sempre o que não posso ter? Não, apenas abro mão de fazer com que outras pessoas passem por esta dor.
Me escondo do mundo, prometo o que não posso e pago sempre um preço alto demais por meus devaneios e desejos.
Fecho os olhos e me permito pular. Sinto o vento e uma voz que me chama.
Lanço-me sem medo da dor.
Corpo e alma...
Ventos e vendavais.
Observo a vida pelo lado de fora calando meu desejo a cada dia pela dor da sua ausência.