sexta-feira, 1 de outubro de 2010

os últimos dias...















Passei dias fugindo, correndo das minhas palavras, correndo...correndo...sentindo o vento me atravessar, mas eu precisava correr...eu precisava sair em fuga do que seria um devaneio de despedida de mim mesma.
Não tive vontade de abrir os olhos, meu corpo pesava mais do que eu podia suportar, eu quis ficar na cama sem notar que o dia amanhecia e as atividades deviam recomeçar.
Por mais ridículo que pareça eu sentia a tristeza de um mundo inteiro...chovia e eu chorava.
Adormeci por mais meia hora mas não sem antes ensopar o travesseiro de toda aquela tristeza que me deixava ver tudo sem nenhuma cor.
Levantei-me nublada como o tempo e procurei alguma, qualquer que fosse a razão que me manteria em pé. Pensei nos meus pais, no que eles sonhavam e quantos desses sonhos depositaram em mim e eu não os iria cumprir e até quem eu menos esperava essa semana resolveu tirar as casquinhas dos meus machucados..."ela acha que todas as crianças são como ela, que entra na história e vive os personagens, que absurdo."
Doeu...eu não sou assim.
Demorei muitos dias pra vir aqui, agora é inevitável não deixar as lágrimas caírem.
Estive quieta, distante, pensativa demais, por alguns dias eu sequer quis expressar uma palavra e pela primeira vez sem ser uma tentativa eu calei-me para o mundo.
Olhei o céu ameaçador, vi as pessoas andarem apressadas tentando evitar a chuva, observei guarda chuvas abrindo dando um colorido na paisagem cinza...coloridos, de bolinhas, listras, pretos...alguns giravam no ar.
Há um vazio dentro de tudo que se aproxima. Eu queria me transformar cada vez menos perceptível, eu quis um isolamento de mim mesma, observei minha própria respiração e como criança eu desejei que a vida tivesse gosto de bala de goma [verdes e laranjas].
As ruas foram ficando desertas, as luzes foram se acendendo amareladas paradas no tempo...entrei...o mosteiro estava praticamente vazio...aquele oásis me encheu de uma paz que não tinha tamanho, não era suficiente pra me alegrar mas amenizava o peso da tristeza solitária.
respirei fundo, enchendo os pulmões de ar como se fosse mergulhar...rezei.
Deixei as lágrimas correrem, pedi por mim e por todos que amo e até pelos que não me querem bem...o banco rangeu...pedi luz ao me caminho.
Buscava ali uma razão...sinto vergonha por as vezes ter que procurar essa razão, vendo que há tantos que sofrem, tantos que choram e mesmo assim são tomados de razões.
Resumi minha ausência aquele banco, escondida de mim mesma na penumbra daquela luz amarelo de ontem.
Caminhei sem olhar as pessoas ao lado, eu não era capaz de ouvi-las...com a minha solidão guardada na bolsa, um aperto se deu dentro de mim...por mais insignificante que seja minha existência ainda tenho funções e obrigações, essas eram as minhas razões.
Jurei a mim não importunar mais aqueles que ainda se compadecem para serem amigos, ou anjos que me emprestam as suas asas todas as vezes que as minhas me mostram incapazes de me carregar.
Eu tentei bater minhas asas, mas elas estão machucadas...toda borboleta, bonita ou feia, pára de bater as asas quando estão prestes a morrer e escolhem por natureza a solidão.
Revi alguns cacos do meu mosaico e me cortei quando vi que tinham razão no que dizem sobre eu vivenciar um personagem e doeu de novo.
Dói ver tantos defeitos em cacos tão pequenos e de louça barata, essa sou eu. Tem dias que essa ausência ainda me causa espanto.
Onde foi que me perdi? onde ganhei essa tristeza toda? esse vazio de mim mesma? perguntas que talvez nunca venham ter uma resposta.
Eu estava ali na beiradinha, mas tive medo...medo do meu medo...voltei pra casa e mais uma vez deixei que o travesseiro guardassem minhas lágrimas secretas, onde os olhos pesariam me fazendo adormecer cansada de uma guerra que eu sei que não vou vencer.