sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tão bonito que doeu

como por uns instantes pode me passar pela cabeça que seria diferente?
como pude agir tão infantilmente?
as vezes a minha punição é minha própria consciência, pois em que momento eu pude imaginar que seria algo diferente?
hoje o frio da cidade se faz presente de uma maneira mais cortante. Buenos Aires amanhece abrilhantada pelo sol doce mas sem calor, característico do inverno.

olhei da minha janela e decidi ir tomar um café. Na Calle Florida com a Paraguay me dei conta que segurava com veemência e força como se fossem meus únicos amigos Laura e Martín, o frio me cortava a pele e faziam ficar rosadas as minhas bochechas de menina "fofinha".

entrei no Havana e me servi de um bom vanilla...ah! adoro olhar aquela barrinha de chocolate se desfazer no leite fervente, só que hoje olhar essa barrinha tinha outro significado.
a barrinha derretia e eu engolia em seco o choro reprimido pois era assim que eu estava essa manhã.
coloquei meus sentimentos dentro de um leite fervente, com delicadeza e suavidade ele foi derretendo até não sobrar vestígios.
era capaz de colorir o leite porém inimaginável de que tenha existido de maneira sólida.
Martín falava sobre o como era bom fazer amor com Laura e como ele a achava bela em seus braços.
ele falava comigo mas somente algumas de suas palavras eu conseguia absorver, deixei algumas lágrimas molharem as letras que ficaram meio turvas, pisquei para que os olhos voltassem a enxergar com clareza.
inerte eu olhava sem ver na minha janela uma Buenos Aires que acordava.
um grupo de pessoas adentrou o café fazendo barulho e me despertou...olhei e algo chamou-me a atenção, por um instante julguei ver seus olhos e aquele brilho de infância, mas entristeceu-me constatar que era apenas fruto do meu desejo.
levantei-me, paguei meu café e sai rumo a livraria El Ateneo, passei lá entre livros e personagens a maior parte do dia.
quando voltei já caia a tarde e Calle Florida dava lugar ao Tango, doloroso e triste me tocou a parar para ouvir.
ah! quanto tempo eu não me deleitava em ouvir aquela melodia forte, cheia de significados dolorosos, sacrificantes.
chorei por mim.
cheguei, abri a porta, fechei e o silencio se fez presente.
me despi, deixei a agua quente aquecer o corpo e num instinto de lavar a alma chorosa.
chorei sem pudores tudo que estava contido o dia todo, adormeci pelo cansaço que os olhos pediam para fechar.
me despeço assim...