
pega pela surpresa...hoje me despedi de Martín e Laura.
foi doloroso, doído, algo dóia no fundo da alma, no fundo do estômago...
senti minhas lágrimas escorrerem ao lado de Martín, quem imaginaria essa despedida de Laura.
me coloquei no seu lugar...lembrei-me de algumas despedidas minhas mas nenhuma tão dolorosa, tão sofrida como a sua, porém, me vi diante de amores antigos, amores novos e todos não vividos, tão intensos e tão pouco sôfregos e doeu, doeu muito.
pensei na vida...pensei na morte...
pensei em mim e pensei em ti...
caminhei pelas ruas frias essa manhã acalentando Martín...dizer que Avellaneda...Laura Avellaneda tinha morrido me fazia sofrer como se eu pudesse compreender o sofrimento de Martín...o amor lhe pregara uma peça.
ele precisava dela, precisava da presença...seu perfume ainda transbordava das roupas no armário...um perfume que sempre esteve alí mas só se fez presente pela ausência.
ele precisava dela, eu precisava deles...
tive que partir...olhei as ruas, o movimento frenético das pessoas que pra mim se mostravam em camera lenta.
senti como se tivesse apanhado...o ar me faltou e ao mesmo tempo pareceu-me sufocar...
eu precisava deles, ele precisava dela...
eu precisava daquele amor, alimentado a conta gotas...
eu precisaria daquele amor adulto e da ingenuidade do aceite...do encanto, do doce prazer...
Martín me dizia como eram belos seus momentos com Avellaneda, eu pensava nos momentos que eu nunca viveria.
O seu medo da morte, a sua dor pela morte.
O seu respeito a Deus, a sua dúvida...
a sua súplica...o desespero.
porque tudo acaba assim? o que ele faria de seu destino? o que eu faria sem eles?
desejei poder dizer isso a uma certa pessoa...
Martín e Laura me ensinaram tanto.
e eu aprendi comigo tanto nos últimos meses.
não sei mais dizer que eu amo...simplesmente porque não se gasta isso com qualquer pessoa, nem se repete isso como se fosse a coisa mais comum do mundo.
para se receber isso é preciso de fato ser especial, é preciso merecer, é preciso caber em tal.
quando cheguei a plataforma, sequei minhas lágrimas apagando as marcas da ultima batalha.
me despedi de vocês e não pude olhar pra trás...
olhei pra você pela última vez e doeu tão fundo que me fez perder o fôlego.
lembrei-me das travessuras, de quando...um nó na garganta tomou conta de mim...deixei o choro escapar e parti.
doeu, dói e estará doendo sempre...
deixei Montevidéu esta manhã.